Carlos Pinto da Cruz nasceu em Montemor-O-Velho, em 1940. O dia exato é desconhecido, uma vez que, três anos depois, uma cheia do Mondego inundou o cartório daquela localidade e destruiu todos os registos, para além de ter deixado toneladas de lampreia por todo o lado – estão aqui as origens do famoso Festival do Arroz e da Lampreia de Montemor.

Filho de uma família da burguesia abastada, concluiu o liceu no Colégio de Santa Betinha, tendo depois rumado a Londres para prosseguir os estudos. No entanto, em terras de Sua Majestade, o bichinho da rádio falou mais alto. Ou antes, a bichinha, um técnico da BBC chamado John Flowers, que mostrou a Pinto da Cruz prazeres desconhecidos para um jovem português da província, que ficou desde aí obcecado por falar ao microfone.

Flowers conseguiu-lhe um lugar na BBC, mas ter de seguir as pisadas de Fernando Pessa naquela estação foi um fardo demasiado pesado para Pinto da Cruz, que resolveu voltar a Portugal depois de uma catastrófica tentativa de substituir o clássico «E esta, hein?» de Pessa por um lamentável «Vais de Metro ou de Centímetro?»

Em 1968, de volta ao seu país, Carlos Pinto da Cruz valeu-se da sua experiência no estrangeiro para se tornar enviado-especial a Paris do Diário da Parcalhota, no maio de 68. No entanto, a falta de verbas daquele jornal nunca lhe permitiu sair da redação, o que não o impediu de escrever brilhantes reportagens sobre aquele acontecimento, em que descrevia as instalações da Sorbonne como velhos barracões de madeira velha e latas dobradas cheios de gente da Beira Interior, no que muitos viram como uma metáfora da decadência da autoridade.

Mesmo sem perceber o que esta frase queria dizer, aceitou o convite do jornal francês Le Monde Caceteirique e foi, durante mais de 30 anos, o seu correspondente em Lisboa.

Em 1998, Pinto da Cruz partiu para um novo desafio e experimentou a televisão, apresentado, durante dois anos, o concurso “O Preço Certo – Edição Doentes De Alzheimer”, que se tornou um enorme sucesso, embora já ninguém se lembre porquê.

Já em pleno séc. XXI, foi colunista de diversos jornais de curta duração – O Trabalho do Empresário, O Sucesso de Benfica – e colaborou no primeiro projeto de jornalismo online feito exclusivamente por maiores de 65 anos: A InterQuê?.
Em 2007, foi convidado para liderar a secção ‘Mundo’ do Jornal do Fundinho. Como não precisava de se levantar da cadeira, aceitou.